Wednesday, October 11, 2006

Entrevista ao Zé Manel da gabardina preta, contrabandista de Rolex


Porque dei nisto? Acho que a ideia me ocorreu porque passava a vida atrasado para todas as entrevistas de emprego. Um dia resolvi sair com relógios em tudo quanto era braço (um no pescoço também) assim a imitar aquele puto com ar sofredor da Swatch e não é que fui dentro por contrabando?! Quando me soltaram, achei que podia muito bem enveredar (palavra bonita) por aquele caminho, afinal de contas, da fama já não me livrava!



Claro que me sinto incompreendido! Ninguém entende como a minha vida é dura. As pessoas desconfiam logo de alguém com a gola puxada para cima e uma gabardina preta reluzente. Assim que me vêem no parque começam logo a dispersar, sinto-me incompreendido. Só dá jeito quando me quero sentar e não há bancos livres. É verdade que ganho a vida a abrir a gabardina e que faço contrabando de Rolex! Eu até podia ter 5 criancinhas em casa a precisar que eu lhes levasse pão à boca, por acaso não tenho, mas podia muito bem ter. E depois? Ao menos faço alguma coisa em vez de viver do subsídio de desemprego. Afinal, uma pessoa tem que viver de alguma coisa e às vezes o desespero dá nisto, pelo menos sinto-me feliz a saber que não era a descontar para a ADSE que ia sobreviver.



Gosto do que faço, sim. Por acaso sabe-me bem cirandar (outra palavra bonita!) e saber que a gabardina que levo vale muito dinheiro (está claro que não me custou tanto assim), faz-me sentir importante! Não sei, talvez na onda dos aparelhos bocais de ouro ou daquele peso monstruoso que os rappers usam ao pescoço (se fosse a eles pensava duas vezes antes de andar de barco). Depois dá para interagir com muita gente diferente, já viu quantas pessoas páram por dia à espera da ligação por barco em Tróia? Até conheci uma das minhas últimas garinas assim, era agarrada mas divertida.



Uma profissão alternativa? Bem, acho que podia andar a vender pintos como a gorda da minha ex-mulher, mas os Rolex requerem menos atenção e eu sou alérgico ao pó. A sorte é que o cigano do Jaquim me arranja esta mercadoria todos os meses e nem pede muito por ela, acho que os amplificadores, DVD's e colunas de som puxam mais por ele (há muito adepto de xuning graças a Deus).



Licenciatura? Pois bem, com o luxo do meu vocabulário urbano podia muito bem ser licenciado em Filosofia, Psicologia ou Latim e Gregro... podia, mas não sou. A minha cultura abrange concertos do José Cid e do Leonel Nunes, além de todas as festas estudantis que consiga furar; já Tony Carreira não dá porque um gajo precisa de vender uns 5 Rolex a uma gaja histérica para conseguir um bilhete. Leio o 24H (viu como deslindaram o caso da Casa Pia?) e o Correio da Manhã, ultimamente o Sol por curiosidade. De autores, a Margarida Rebelo Pinto claro! Não escreve nada de jeito, mas imaginá-la naquelas poses (tipo a levar por trás no vão de uma escada) vale o sacrifício.



Obrigado, o prazer foi todo meu! E um Rolex, não? Tenho aqui um que é a sua cara! E só por ser para si faço-lhe a 25 euros, não encontra disto em loja nenhuma!



(entrevista gentilmente cedida por jornalista anónima)

1 Comments:

Blogger ;= said...

o "novo" testa_menta com sabor a frakinho...

Oct 11, 2006, 10:00:00 PM  

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