Gostava de ser "samedo"...

O meu nome é Zé Catarino e sou infeliz... Vivo uma vida de insatisfação, vivo triste porque não consigo ter aquele sutaque samedo. Não consigo dizer frazes como, Ò belmiro tráze-me as sandez. Tou seio de fuome... É revoltante chegar ao trabalho e não conseguir dizer ...ò anastássio amanda-me daí o balde de massa e a taloixa... à rapazi hoje ainda bou ó pito à tua prima...(brutal gargalhada)... seja cego...
Fodasse só de pensar nas cenas que não consigo fazer dá-me logo vontade de cortar o pulsame...
Ainda noutro dia lá ia eu pelo comboio adiante quando me deparo com um grupo de notáveis personagens, enfim, aquele tipo de pessoas que todos nós sonhamos ser quando somos crianças, eram cinco, seis tipos bem parecidos, bem parecidos com o fundo do poço. Estavam disfarçadamente (aos berros) a falar do preço do cavalo ... ò colega, no meu tempo é que era... quando levava na peida na prisão é que era... o cavalo... o cavalo... era a cinco mérreis a grama... é que batia... era todos os dias a bater (co a cabeça na pia)... hoje nem dentes tenho man (cuspidela)... agora é que éham... Temos que ir outra vez à rua da noite dos trovões... temos que ir lá buscar uma saquinha de tratóil...
Eu sempre tentei chegar a um ponto alto destes, mas nunca consegui, confesso, sou fraco. O máximo que consegui foi roubar um boquet de flores a uma velhinha num velório...
Sou um desgraçado, sou um zé Catarino...